Quando as conversas entre Eduardo Tagliaferro, ex‑assessor do TSE, e Alexandre de Moraes vieram a público, a reação foi imediata. As mensagens revelaram críticas duras ao ministro e sugeriram que ele teria usado influência indevida em investigações que envolvem o ex‑presidente Jair Bolsonaro. O escândalo acabou culminando na demissão de Tagliaferro em 2024 e, pouco depois, numa solicitação formal do Ministério das Relações Exteriores para sua extradição da Itália, onde ele se refugiou.
O impacto foi sentido dentro do próprio STF. Por cerca de oito meses, Moraes ficou sem um juiz de confiança que atuasse como seu braço direito nas questões mais delicadas. Essa lacuna passou a ser chamada de "efeito Tagliaferro" por jornalistas e analistas, que destacaram como a confiança pessoal é crucial para a eficácia de decisões em tribunais de alta instância.
Sem um colaborador imediato, o ministro começou a reavaliar toda a estrutura de sua secretaria. Foram dispensados dois assessores próximos, e novas nomeações foram anunciadas para garantir que a equipe contasse com profissionais com histórico de imparcialidade e experiência em direito constitucional. Uma das mudanças mais notáveis foi a criação de um cargo de coordenador de processos críticos, destinado a centralizar a gestão dos casos de alta relevância política.
O movimento, porém, encontrou resistência no Senado. Aliados de Bolsonaro – entre eles o senador Flávio Bolsonaro – argumentam que as denúncias de Tagliaferro podem afetar decisões do STF sobre processos contra o ex‑presidente, que já incluem acusações de tentativa de golpe nas eleições de 2022. Esses senadores têm pressionado por um comitê de investigação parlamentar e até sugerido levar o caso a organismos internacionais.
Apesar da pressão, a liderança atual do Senado tem se mantido cautelosa. Segundo fontes internas, há pouca disposição para abrir um processo de impeachment contra Moraes, mesmo que a bancada de oposição já tenha apresentado requerimentos formais. A postura conservadora do presidente do Senado indica que, enquanto houver apoio político suficiente ao ministro, o assunto poderá ficar em limbo.
Enquanto isso, dentro do Supremo, a equipe reformulada já começa a assumir tarefas que antes eram centralizadas no antigo juiz de confiança. A expectativa é que, com a nova estrutura, o ministro possa retomar o ritmo de decisões sem depender de alianças pessoais tão estreitas, reduzindo, assim, a vulnerabilidade a novas crises de confiança.