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Léa Seydoux destrói em silêncio em 'Uma Bela Manhã', o romance mais delicado dos últimos anos

Léa Seydoux destrói em silêncio em 'Uma Bela Manhã', o romance mais delicado dos últimos anos
Davi Matos Lemos 11 dezembro 2025 1 Comentários

Quando Léa Seydoux recebe uma mensagem de texto no meio de uma manhã caótica — entre levar a filha à aula de esgrima e tentar encontrar uma vaga em uma casa de repouso para o pai moribundo — o mundo dela simplesmente para. Não há música dramática. Não há choro. Só o silêncio. E é nesse silêncio que 'Uma Bela Manhã' se torna algo raro no cinema contemporâneo: uma história que não grita, mas que te desmonta por dentro. Disponível desde 2023 na Amazon Prime Video, o filme da diretora francesa Mia Hansen-Løve é, como escreveu Giancarlo Galdino da Revista Bula, 'o romance mais delicado dos últimos anos' — e talvez o mais devastador.

Um retrato silencioso da sobrevivência

Sandra, interpretada por Léa Seydoux, é uma mulher de trinta e poucos anos que vive em três dimensões ao mesmo tempo: filha, mãe e profissional. Seu pai, Georg (Pascal Greggory), sofre com uma doença neurodegenerativa que apaga memórias, habilidades e, aos poucos, a identidade. Sua filha, Linn (Kester Lovelace), de oito anos, precisa de transporte, atenção, carinho — e Sandra dá tudo isso, mesmo quando já não tem nada para dar. Entre visitas ao neurologista, reuniões com assistentes sociais e aulas de esgrima, ela ainda tenta manter uma vida afetiva. E aí entra Clément (Melvil Poupaud), o ex-namorado que volta com promessas instáveis, dizendo que vai deixar a esposa, mas nunca o faz. Ele não é vilão. É fraco. E isso é pior.

A direção que não precisa de drama para emocionar

Mia Hansen-Løve não dirige cenas. Ela observa. Cada olhar de Léa Seydoux carrega um ano de culpa, um mês de exaustão, uma semana de insônia. Quando a enfermeira diz, com a frieza de quem já viu tudo: 'Você deveria aproveitar cada momento, mesmo que seja só ajudá-lo a ir ao banheiro', o impacto é maior do que qualquer gritaria. Não há música para enfatizar. A câmera só se aproxima, como se tivesse medo de perturbar. A cinematografia de Denis Lenoir é quase um sussurro — tons apagados, luz natural, espaços apertados. O filme foi produzido por CG Cinema, com apoio da France 2 Cinéma e Arte France Cinéma, e estreou na Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes de 2022, onde foi aclamado por sua autenticidade.

Um romance que não é sobre paixão, mas sobre desespero

Um romance que não é sobre paixão, mas sobre desespero

Clément não é o amor da vida de Sandra. Ele é o último respiro antes do colapso. E isso é o que torna o relacionamento tão real. Ele não salva ninguém. Não traz esperança. Só aparece, com olhos cheios de culpa, e pede para ser perdoado. E Sandra? Ela quer ser amada. Mas não sabe mais como. O filme brinca com o espectador: será que ela está fingindo? Será que ele realmente a quer? A resposta não vem em diálogos grandiosos. Vem em um gesto: ela segura a mão do pai enquanto ele dorme, e depois, no quarto, lê a mensagem de Clément pela centésima vez. É aí que o filme te pega. Não por um grande acontecimento, mas por uma ausência. A ausência de alívio. A ausência de solução.

Por que isso importa agora?

No Brasil, onde mais de 15 milhões de pessoas têm algum grau de dependência por causa de doenças como Alzheimer — segundo dados do IBGE de 2023 —, 'Uma Bela Manhã' não é só um filme. É um espelho. Milhões de mulheres, e homens, vivem esse equilíbrio impossível: cuidar de pais idosos, sustentar filhos pequenos, manter um emprego, tentar não desmoronar. E ninguém os vê. Ninguém os agradece. O filme não oferece respostas. Mas mostra, com uma precisão quase médica, como o peso da responsabilidade emocional pode desgastar alguém sem deixar cicatrizes visíveis.

Crítica e legado

Crítica e legado

Giancarlo Galdino atribuiu ao filme nota 8/10, dizendo que Léa Seydoux e Pascal Greggory 'alinhavam todo o filme, prestando atenção ao menor gesto, dizendo suas falas como se quisessem despertar não piedade, mas respeito'. A trilha sonora, composta pelos irmãos Evgueni Galperine e Sacha Galperine, é minimalista — um piano que parece hesitar antes de tocar. A edição de Marion Monnier corta como se fosse um suspiro. E o resultado? Um dos filmes mais importantes sobre cuidado e solidão dos últimos dez anos.

Na Espanha, onde foi lançado em 31 de março de 2023 com o título Una bonita mañana, a crítica do Cinemagavia.es fechou com uma pergunta que fica: '¿Y es qué, quién sabe cómo actuar cuando sientes que todo te sobrepasa?' — E quem sabe como agir quando sente que tudo te sobrepõe? A pergunta não tem resposta. Mas o filme, sim. Ele te mostra que às vezes, o ato mais corajoso é apenas continuar.

Frequently Asked Questions

Por que 'Uma Bela Manhã' é considerado um dos romances mais delicados dos últimos anos?

Porque não retrata o amor como paixão intensa, mas como presença silenciosa em meio ao caos. O romance entre Sandra e Clément não é sobre beijos ou declarações, mas sobre o simples fato de alguém te ver, mesmo quando você já não se vê mais. A sutileza das expressões de Léa Seydoux e a ausência de melodrama transformam cada gesto em um ato de resistência emocional.

Como a atuação de Léa Seydoux contribui para o impacto do filme?

Seydoux evita qualquer exagero. Ela não chora, não grita, não faz discursos. Em vez disso, ela respira fundo antes de responder uma pergunta, segura o celular com a mão trêmula, olha para o pai e depois desvia o olhar. Esses pequenos silêncios carregam mais peso do que cenas inteiras de outros filmes. Foi por isso que ela foi indicada ao Prêmio Europeu de Melhor Atriz em 2022 — sua performance é um manifesto sobre a dor não verbalizada.

O filme retrata com precisão a realidade de quem cuida de idosos com demência?

Sim. A rotina de Sandra — visitas médicas, burocracia de lares de repouso, a culpa por não fazer o suficiente — ecoa relatos reais de cuidadores no Brasil. Dados do IBGE mostram que 40% dos cuidadores de idosos com demência são mulheres entre 30 e 50 anos, muitas vezes sem apoio financeiro ou psicológico. O filme não dramatiza: ele documenta. E isso o torna ainda mais doloroso.

Por que a diretora Mia Hansen-Løve é tão especial no cinema contemporâneo?

Ela não conta histórias de grandes eventos, mas de pequenos desmoronamentos. Em 'A Ilha de Bergman' e 'Adeus, Primeiro Amor', ela já mostrou como o cotidiano pode ser um campo de batalha emocional. Em 'Uma Bela Manhã', ela usa o silêncio como linguagem. Seus personagens não resolvem nada — apenas sobrevivem. E nessa sobrevivência, há uma beleza rara, quase invisível.

Onde posso assistir a 'Uma Bela Manhã' no Brasil?

O filme está disponível na Amazon Prime Video no Brasil, com título original em francês e legendas em português. Foi lançado na plataforma em 2023, após sua estreia em Cannes e na Espanha. Não há versão dublada, mas a tradução das legendas é fiel e bem feita, mantendo a sutileza dos diálogos.

Qual é o papel da filha de Sandra no filme?

Linn, a filha de oito anos, é o único ponto de luz constante na vida de Sandra. Mas não é um símbolo de esperança — é um lembrete de que a vida continua, mesmo quando tudo parece parar. Ela pede ajuda para a lição de casa, corre atrás da bola na esgrima, e em um momento, pergunta: 'Papai vai morrer?' Sandra não responde. E esse silêncio, mais do que qualquer palavra, diz tudo sobre o que é crescer em meio à dor.

1 Comentários

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    Katia Nunes

    dezembro 12, 2025 AT 13:07

    ai que dor de coração... eu vi esse filme e fiquei tipo... é isso mesmo, é exatamente assim que a gente se sente quando tá cansada demais pra chorar e ainda tem que arrumar o lanche da escola. nenhuma música, nenhum discurso, só o silêncio e o celular vibrando no bolso. eu nãoo sei se é filme ou documentário, mas me matou por dentro.
    ps: escrevi errado msm, tô exausta.

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