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Riscos do autocuidado exagerado em crianças preocupam especialistas em saúde mental

Riscos do autocuidado exagerado em crianças preocupam especialistas em saúde mental
Davi Matos Lemos 8 maio 2025 14 Comentários

Como o autocuidado virou obsessão precoce

Bastou a última moda das redes sociais chegar ao feed das crianças: uma rotina de skincare cheia de etapas, promovida como se fora segredo para uma vida perfeita. Parece inofensivo, até saudável, mas especialistas enxergam outro lado. Psicólogos como João Vítor de Pádua têm sido chamados por pais preocupados com o excesso de tempo e energia que crianças e pré-adolescentes vêm dedicando aos cuidados estéticos, principalmente influenciados por vídeos tutoriais e desafios de beleza espalhados pelas plataformas digitais.

Esse interesse, que crescia devagar, ganhou força depois da pandemia. Com escolas fechadas e interação presencial quase nula, as telas se consolidaram como principal ponte para amizade, lazer e referência de comportamento. O problema? O conteúdo aparece quase sempre editado e filtrado, vendendo um padrão de beleza difícil — ou até impossível — de alcançar. Isso desencadeou uma corrida pelo autocuidado infantil cada vez mais elaborado e rígido, numa fase em que a construção da autoestima está apenas começando.

O impacto na autoestima e na saúde mental

O que parece só uma vaidade inocente esconde riscos bem reais. Crianças e adolescentes nesse estágio estão formando identidade, buscando pertencimento e validando sentimentos por meio do olhar do outro. Se a régua principal vira a aparência, a autoestima pode ser despedaçada facilmente por comparações feitas diante do espelho — ou pior, do celular. Para João Vítor de Pádua, é nesse ambiente de vulnerabilidade que as práticas exageradas de autocuidado se tornam armadilha: "Quando o valor próprio depende do visual, as frustrações surgem rápido e profundas," resume o psicólogo.

Além disso, a pressão para seguir etapas intermináveis de rotinas — muitas vezes caras ou inadequadas para a faixa etária — pode provocar ansiedade, insatisfação corporal e até sintomas depressivos. Não é raro encontrar relatos de meninas de nove ou dez anos preocupadas com rugas, manchas ou pequenos defeitos que só perceberam porque viram alguém apontar na internet.

  • Orientação é chave: De Pádua recomenda conversas francas com os jovens sobre o que veem online, destacando que redes sociais mostram apenas recortes e versões editadas da realidade.
  • Valorizando talentos: Pais e educadores devem incentivar a construção da autoestima baseada em conquistas, habilidades e qualidades individuais — não só pela aparência.
  • Consciência crítica: É saudável ensinar crianças a identificar publicidade disfarçada, filtros e o impacto de comparações irreais.

Esse movimento de alerta à saúde mental já ganha espaço em consultórios, escolas e rodas de conversa familiar. O objetivo não é demonizar o autocuidado, mas devolver o equilíbrio: cuidar da pele pode ser legal, desde que não consuma o que crianças têm de mais precioso — a espontaneidade de serem quem são, longe da ditadura dos filtros digitais.

14 Comentários

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    João Marcos Rosa

    maio 9, 2025 AT 12:01

    Essa é uma das maiores crises de saúde mental silenciosa da geração Z. Crianças de 8 anos usando sérum de vitamina C porque viram um TikTok? Isso não é autocuidado, é condicionamento. A indústria da beleza sempre explorou inseguranças, mas agora ela está atacando o desenvolvimento psicológico na infância - e ninguém tá falando disso com a urgência que merece.

    É preciso educação midiática desde o primeiro ano do ensino fundamental. Não adianta só proibir: ensine a desmontar os filtros, literal e metaforicamente. As crianças não são burras, elas só não têm ferramentas pra entender que aquilo é publicidade disfarçada de amizade.

    Os pais precisam de suporte, não de julgamento. E escolas? Elas são o lugar ideal pra isso. Por que não temos uma disciplina de “desmontagem de ilusões digitais” no currículo? Estamos deixando as crianças sozinhas num campo minado.

    Se a autoestima vem de dentro, por que a gente só ensina a buscá-la no espelho? É hora de mudar o jogo.

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    Jocelie Gutierrez

    maio 11, 2025 AT 09:07

    Que triste ver como a sociedade moderna transformou a infância num reality show de aparências. Mas, sinceramente, quem é o responsável por permitir isso? Os pais que deixam os filhos em telas o dia inteiro, claro. Não adianta culpar os influenciadores - eles só estão vendendo o que o mercado pede. E o mercado? Ele pede por crianças que cresçam como consumidoras perfeitas.

    É uma geração que nasceu com o Instagram no berço. E agora se espanta porque elas acreditam que pele perfeita é sinônimo de valor humano? Que surpresa…

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    Letícia Montessi

    maio 13, 2025 AT 06:15

    Essa discussão é superficial. Não se trata de ‘rotina de skincare’ - trata-se da colonização da psique infantil por um capitalismo estético que não tem piedade. Crianças não escolhem isso. Elas são programadas. Os vídeos são algoritmos que se alimentam da insegurança e a vendem como solução. É uma lavagem cerebral com gloss e ácido hialurônico.

    E vocês acham que o problema é a tela? Não. O problema é o sistema que usa a tela para vender a ideia de que o corpo infantil é um projeto a ser corrigido. Isso é eugenia com filtro de luz suave.

    Quem fala em ‘equilíbrio’ está ignorando a violência estrutural. Não existe ‘autocuidado saudável’ quando a base é a culpa por existir de forma imperfeita. E isso não é vaidade - é psicose comercializada.

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    Emili santos

    maio 15, 2025 AT 05:09

    Eu chorei lendo isso. Minha irmãzinha de 9 anos me perguntou ontem se ela tinha ‘pele de adulta’ porque tinha um ‘ponto preto’ no nariz… e eu não sabia o que dizer. Ela viu um vídeo de alguém espremendo cravos e achou que era normal. Agora ela passa 40 minutos no banheiro com um protetor solar que custa mais que meu café da manhã.

    Eu não tenho filhos, mas sinto isso como se fosse meu. O que estamos fazendo com elas? Elas merecem brincar, não corrigir. Elas merecem ser crianças, não modelos de campanha.

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    João Vitor de Carvalho Corrêa Sá Freire

    maio 15, 2025 AT 09:12

    BRASIL, ACORDA! ISSO É INVASÃO CULTURAL! QUANDO EU ERA CRIANÇA, A GENTE BRINCAVA DE BOLINHA DE SABÃO E NÃO TINHA QUE SE LIMPAR COM 12 PRODUTOS PRA NÃO SER ‘FEIO’! ISSO É INFLUÊNCIA AMERICANA DISFARÇADA DE ‘MODA’! 🇧🇷🔥

    TEM GENTE QUE PAGA 300 REAIS POR UM SÉRUM PRA CRIANÇA DE 7 ANOS?! QUE LOUCURA É ESSA?! NOS EUA TAMBÉM É TUDO FALSO, MAS NÓS NÃO PRECISAMOS SEGUIR TUDO QUE ELES FAZEM! VAMOS CRIAR NOSSAS PRÓPRIAS CRIANÇAS, NÃO OS FILHOS DE TIKTOK!

    SEU FILHO NÃO É UM INFLUENCIADOR, É UM KID! DEIXA ELE SUAR, BRINCAR, CAIR E VOLTAR COM A PELE SUJA - ISSO É VIDA, NÃO ‘PELE PERFEITA’!

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    Joseph Pidgeon

    maio 16, 2025 AT 14:45

    Interessante como a gente sempre busca soluções individuais para problemas sistêmicos. Enquanto discutimos se a criança deve usar ou não sérum, esquecemos que o problema é o modelo de sociedade que valoriza a aparência acima de tudo. A solução não é proibir, mas reconstruir valores.

    Se a escola ensina matemática e português, por que não ensina autoestima crítica? Por que não ensina que a beleza é diversa, que os filtros mentem, que o valor não está no reflexo? Isso não é ‘moda’, é educação. E é urgente.

    Podemos fazer diferente. Não precisamos de mais regras - precisamos de mais diálogo, mais escuta, mais presença. As crianças não precisam de mais produtos. Elas precisam de mais amor sem condições.

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    Nicolly Pazinato

    maio 17, 2025 AT 12:29

    Eu tenho uma filha de 10 anos e, honestamente, eu não sabia que isso estava tão avançado. Ela começou a pedir um tônico depois de ver uma youtuber de 15 anos falando sobre ‘rotina de pele de 10 passos’. Fiquei em choque. Mas em vez de gritar, eu sentei com ela e perguntei: ‘o que você acha que ela está tentando te vender?’

    Elas sabem. Elas só precisam de alguém pra ajudar a nomear o que sentem. Não é sobre proibir. É sobre guiar. E isso é possível. Eu estou tentando. E vocês?

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    antonio da silva

    maio 19, 2025 AT 02:41

    Claro, porque agora é crime criança querer se cuidar? Daqui a pouco vão dizer que banho é abuso. 😂

    Se a menina quer passar creme, deixa. Se ela gosta de se arrumar, ótimo. O problema não é o creme, é o fato de os pais não saberem falar sobre o que é real e o que é fake. O problema é a falta de conversa, não o skincare.

    Eu tenho 35 e ainda passo sérum. Isso me torna uma criança psicologicamente desregulada? Não. Então por que a criança que faz o mesmo é ‘vítima’?

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    Geovania Andrade

    maio 19, 2025 AT 21:06

    Essa discussão é importante, mas não pode ser reduzida à pele. O que está em jogo é a construção da identidade em uma era de performance constante. A criança hoje não apenas vê - ela se compara, se avalia, se juzga. E isso é uma carga emocional que ela não tem maturidade para suportar.

    É preciso repensar a educação afetiva. Não adianta só falar de autoestima em palestras. Precisamos de práticas concretas: atividades que valorizem o esforço, não o resultado; que celebrem a imperfeição; que ensinem que o corpo é um lar, não um projeto.

    Isso exige tempo, paciência e formação dos educadores. E sim - é possível. Mas não vai vir de um TikTok.

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    José R. Gonçalves Filho Gonçalves

    maio 20, 2025 AT 18:35

    Na minha infância, o autocuidado era lavar o rosto com sabonete e se secar com a toalha. Ninguém falava de poros, nem de pH da pele. Mas a gente tinha liberdade. E a liberdade de ser quem se é - sem filtros - é o bem mais valioso que podemos dar às crianças.

    Eu cresci no interior, e mesmo assim vi o que a tecnologia está fazendo. Não é sobre ser contra o cuidado. É sobre ser a favor da infância. E infância não é um produto a ser otimizado.

    Quando eu for pai, quero que meu filho se olhe no espelho e pense: ‘sou assim, e isso é suficiente’. Não ‘sou assim, mas preciso mudar’.

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    Matheus Alves

    maio 21, 2025 AT 04:08

    Eu tenho um sobrinho de 11 anos que passa creme de noite e me pergunta se ele tem ‘linhas finas’. Fiquei em silêncio. Depois, na hora do jantar, falei: ‘você sabe que a melhor coisa que você tem é o jeito que você ri? Pois é, isso não tem filtro. E é lindo.’

    Ele sorriu. E não perguntou mais nada por uma semana.

    Às vezes, não precisamos de soluções complexas. Só precisamos de um adulto que não esteja olhando para o celular enquanto fala com a criança. A presença é o maior cuidado que podemos oferecer.

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    Mayla Dabus

    maio 21, 2025 AT 22:16
    tipo assim qnd eu era kid eu brincava de pique pique e me sujava de terra e ninguem falava nada sobre pele msm kkkk agora as crianca ta mais preocupada com espinha q com nota de matematica q isso e triste
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    vinicius cechinel

    maio 22, 2025 AT 03:21

    Isso é o que acontece quando você deixa crianças crescerem sem limites, sem autoridade, sem vergonha na cara. Pais que viram influenciadores, escolas que não ensinam nada, e agora a criança se acha um ser humano que precisa ser ‘corrigido’ antes mesmo de aprender a ler.

    Isso não é autocuidado. É autodestruição com etiqueta de ‘self-care’. E os pais que permitem isso são os verdadeiros responsáveis. Não é o TikTok. É a falha moral de uma geração que prioriza o ‘parecer’ em vez do ‘ser’.

    Se vocês querem salvar as crianças, parem de dar celular pra elas antes dos 12 anos. Ponto final.

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    Leandro Monjardim

    maio 23, 2025 AT 07:29

    Eu trabalho com adolescentes e já vi casos de depressão ligados diretamente à pressão por aparência. Uma menina de 12 anos que passava 3 horas por dia se arrumando para ir à escola - e ainda assim se achava ‘feia’. Ela não queria ir à aula. Não por preguiça. Por medo.

    Se o autocuidado tira a alegria, não é autocuidado. É autossabotagem.

    É preciso criar espaços seguros onde as crianças possam falar sem medo. Não é sobre dizer ‘não’ ao creme. É sobre dizer ‘sim’ à liberdade de ser imperfeito. E isso começa com adultos que não estão obcecados por perfeição também.

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